Eles não imaginavam que a vida mudaria dessa maneira. Antes de chegarem à Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), muitos dos alunos que hoje lá estão procuravam apenas um esporte para que desviasse a atenção daquilo que teriam de enfrentar diariamente, normalmente uma recém-adquirida deficiência física. Outros, nem isso. Só foram ao local porque professores ou médicos os orientaram a fazê-lo.
Essa descrença inicial, em muitos casos, ganhou um novo sentido com o tempo. Encontraram no centro de treinamento e no novo esporte a possibilidade de transformação. Hoje, há pelo menos 102 atletas de elite no Cetefe, que se tornou uma fábrica de promessas paraolímpicas.
Antes
As deficiências podem ser físicas, visuais, auditivas ou mentais. Segundo o coordenador da Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe) Ulisses de Araújo, é comum receber pessoas com a autoestima baixa, consequência, muitas vezes, das necessidades especiais. Esse desânimo, porém, começa a ser trabalhado logo no início do processo. Cada um que chega ao Cetefe recebe um atendimento individual na escolha da modalidade que deseja praticar — ou até mais de uma —, passando por uma avaliação que mostra se o esporte será compatível com a destreza do novo atleta.
Assim ocorre o primeiro contato dos alunos com o esporte, propriamente dito, e suas regras e manhas. As opções de escolha são variadas. Ao todo, há 15 modalidades que os interessados podem praticar: futebol de cinco e de sete pessoas, atletismo, natação, badmington, remo, vela, vôlei sentado, tênis em cadeira de rodas, goalball, tiro com arco, bocha, judô, ciclismo e triatlo.
O brasiliense Luciano Reinaldo foi um dos que descobriram um real talento no Cetefe. Em 2008, ele ingressou na natação, mas logo depois foi convidado para conhecer o tiro com arco. E foi nesse esporte que o portador de espinha bífida — uma anormalidade genética que ocasiona um fechamento incompleto da coluna vertebral — redescobriu seus sonhos. Ao seu lado, Diogo Rodrigues, 17 anos, também prata da casa, compartilha o desejo olímpico que os impulsiona, os faz enxergar bem mais à frente. O jovem atleta teve uma das pernas amputada, consequência de um câncer. “Entrei no Cetefe em 2009, por indicação do meu professor. Comecei na natação, mas fiz aula experimental de tiro com arco e gostei do esporte.”
Durante
Apenas dois meses depois de ingressar no Cetefe, Luciano Reinaldo foi direcionado ao Clube do Exército (parceiro da instituição) para reforçar seus treinos de tiro com arco em um campo que tivesse as distâncias oficiais. Os técnicos acreditaram em seu potencial. “Os que mostram ter mais aptidão e vontade são treinados com foco em campeonatos”, explicou Christian Haensell, técnico da seleção brasileira paraolímpica de tiro com arco e voluntário do centro.
“Alguns olham apenas para a deficiência. Nós olhamos para a capacidade que eles têm de realizar uma tarefa e exploramos isso”, defende Ulisses de Araújo. Os resultados não demoraram a chegar.
Em apenas dois anos de prática da modalidade, Luciano, hoje com 32 anos, tem no currículo um bronze e dois ouros — um deles conquistado na semana passada — em disputas brasileiras. “Sempre treino tendo a pontuação das Olimpíadas como meta”, conta, empolgado.
Diogo, por sua vez, é mais tímido. Campeão juvenil da modalidade que começou a praticar em 2009, o rapaz usa equipamentos do próprio Cetefe. O centro dispõe de materiais caros, necessários às práticas esportivas, como cadeiras de rodas que chegam a R$ 20 mil. A verba para viagens também não sai do bolso dos atletas, e sim de patrocinadores, do governo e do Comitê Paraolímpico.
O investimento tem dado frutos ainda em outros esportes ensinados no Cetefe. De Brasília, atletas de tênis e de natação embarcam esta semana para a África do Sul e para a Alemanha, respectivamente, rumo a novas disputas. As modalidades são ensinadas em um ciclo: diversos atletas, dispondo de bolsa em uma universidade particular da cidade, formam-se em educação física e se tornam funcionários do centro. Hoje, são mais de 300 trabalhando no local, com carteira assinada.
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