Deficiência Visual / 05/05/2011 - O Casamento Real com Audiodescrição

william e kate.

 

Enquanto assistia à transmissão do casamento real, na sexta feira, dia 29 de abril, fiquei pensando em como seria fazer a audiodescrição desta celebração, um evento luxuoso, com tantos detalhes culturais e históricos, realizado na majestosa Abadia de Westminster, repleta de convidados e decorada por muitos plátanos, árvores que nesta época do ano têm folhas verdes em um tom bem vivo, contrastando com o cinza das paredes da igreja.

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Mas e quem não enxerga? Certamente faltaram muitos detalhes descritivos para as pessoas com deficiência visual, detalhes esses que seriam essenciais para o pleno entendimento de tão belo evento. Poder ver com palavras a chegada da noiva na igreja com seu pai, um senhor alto, moreno com cabelos grisalhos, vestindo um fraque preto com colete cinza e gravata cor de vinho, dentro do imponente Rolls-Royce Phantom VI de 1978, limousine real na cor vinho escuro, quase preto.

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E ver com palavras o tão esperado vestido de Kate Middleton, desenhado por Sarah Burton – de organza de seda marfim, com corpo de renda transparente sobre corset, mangas longas, saia ampla com pregas largas.

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A rainha toda de amarelo – vestido tipo casaco de mangas longas sem gola, decote careca, com broche de diamantes, chapéu enfeitado por uma flor, bolsa e sapatos bege – sorria satisfeita com a manifestação popular, de dentro da carruagem, no trajeto da Abadia para o Palácio de Buckingham.

 

Os cegos brasileiros não puderam ver com palavras evento tão significativo. O mesmo não aconteceu, entretanto, com os cegos canadenses e britânicos. AAccessible Media Inc (AMI) proporcionou aos cegos canadenses o serviço de audiodescrição para que pudessem desfrutar de todas as emoções do evento. A AMI é uma organização não governamental que opera o TACtv (The Accessible Channel) e que atende a mais de cinco milhões de pessoas cegas, com baixa visão, surdas e com deficiência auditiva, pessoas com deficiência intelectual, deficiência física, analfabetos e pessoas que estão aprendendo inglês como segunda língua. No Accessible Channel, todos os programas têm legenda (closed caption) e audiodescrição aberta.

 

Os audiodescritores canadenses prepararam-se para o casamento real, fazendo pesquisa sobre os prédios históricos, buscando informações sobre o percurso que seria feito pelo cortejo real da Abadia de Westminster para o Palácio de Buckingham, sobre os possíveis convidados, detalhes e termos para descrever trajes de gala e vestidos de noiva.

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Os audiodescritores que descreveram o casamento real comentaram que o papel do audiodescritor é diferente de um locutor ou comentarista, porque o primeiro tem que fornecer detalhes visuais, coisa que os comentaristas em geral não fazem por achar que esses detalhes são óbvios. A expressão do Príncipe William ao ver a noiva, ou dos pais da noiva, são exemplos do que os audiodescritores têm que captar no desenrolar do evento. E completaram:
 

 

“Nós estamos descrevendo a história e ao mesmo tempo fazendo história. Esperamos que este seja o primeiro de muitos outros momentos significativos que nós poderemos oferecer para nossa audiência." (Fonte: http://ht.ly/4HMS1)
 
Também os cegos britânicos puderam ver o casamento real com palavras pelaINSIGHT RADIO, a rádio do RNIB (Royal National Institute of Blind People) que apresentou um programa especial com a audiodescrição do evento, incluindo os detalhes da cerimônia, os trajes dos convidados, as cenas dentro e fora da Abadia de Westminster.
 
Em breve, muito breve, a audiodescrição será uma realidade na televisão brasileira e certamente, muitos serão os eventos a serem transmitidos com o recurso. Profissionais competentes, preparados para a tarefa, não faltam. Graciela e Lara Pozzobon arrasaram na audiodescrição do maior espetáculo da terra: o Carnaval carioca com o desfile das escolas de samba; Francisco Lima e seu time de audiodescritores emocionaram os cegos pernambucanos ao audiodescreverem a Paixão de Cristo em Nova Jerusalém; o Teatro Amazonas vem dando um banho de acessibilidade no Festival de Ópera; o Teatro Vivo já conquistou um público fiel de pessoas com deficiência visual que comparece a todos os espetáculos com acessibilidade; Maurício Santana emplacou os melhores de 2009 e 2010 no Cine SESC;  Bell Machado fez do seu Ponto de Cultura um point da AD; além de outros nomes que têm contribuído para o avanço da técnica no Brasil.
 
 
Fonte: http://www.vercompalavras.com.br/blog/?p=408

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